22/03/2024 17h19 - Atualizado em 28/03/2024 13h09

Fapes realiza seminário do PPSUS com pesquisas inovadoras para saúde pública capixaba e do Brasil

Foto: Divulgação: Ascom

Os resultados dos 18 projetos mostraram elevado nível das pesquisas realizadas no Espírito Santo.

A reunião de mestres e doutores com importantes pesquisas a serem aplicadas no Sistema Único de Saúde (SUS) marcou a semana da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). Durante essas terça-feira (19) e quarta-feira (20), foi realizado o Seminário de Acompanhamento Final do Edital 09/2020 – Programa de Pesquisa para o SUS e Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS).

O evento aconteceu no auditório da Fapes, em Vitória, e contou com representantes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos (DCIT) do Ministério da Saúde (MS) e da Secretaria da Saúde (Sesa).

O Programa de Pesquisa para o SUS surgiu em 2004 como iniciativa de descentralização de fomento à pesquisa em saúde, em todos os estados que promovem o desenvolvimento científico e tecnológico, visando a atender às peculiaridades de cada região brasileira e contribuir para a redução das desigualdades regionais. No edital 2020, aberto pela Fapes, 18 projetos capixabas foram selecionados com investimento de mais de R$ 2 milhões.

Os estudos realizados pelos pesquisadores abrangeram vários setores da saúde, com resultados que vão impactar diretamente na qualidade do atendimento à população atendida pela rede do SUS. Os representantes das instituições envolvidas foram unânimes em classificar os projetos como relevantes e com grande potencial para elevar o nível dos serviços prestados pela rede pública de saúde em todo o País.

Autoridades presentes no Seminário

O diretor técnico-científico da Fapes, Celso Saibel, enalteceu o papel da Fundação na relação com o CNPq e o PPSUS, que possibilitaram a seleção de grandes projetos de pesquisas. “Vimos que os trabalhos realizados realmente têm muita relevância, uma aplicabilidade direta, não só no contexto regional, mas no contexto nacional do SUS. É muito positivo ver o dinheiro público bem aplicado e numa área muito sensível da população. Os pesquisadores se dedicaram bastante e têm resultados realmente aplicáveis na prática, que é o objetivo fundamental do PPSUS. O desejo de todos os envolvidos é que saiam soluções que partam da academia, com estudos e com metodologia científica para serem aplicados na prática diária do SUS. A Fapes se sente fortalecida com os resultados alcançados na conclusão dos projetos de pesquisa do edital”, destacou Celso Saibel.

A coordenadora nacional do PPSUS, Mêrge Tenório, definiu o seminário na Fapes como um avanço para a saúde do Brasil e destacou a importância das pesquisas apresentadas, por meio do PPSUS, como potencias inovações no SUS. “Tivemos uma quantidade enorme de resultados com aplicabilidade, alguns resultados já implementados pela Secretaria da Saúde, outros com grande potencial para ter continuidade e que, com certeza, vão gerar produtos muito importantes para o SUS nacional. Os projetos são de grande porte, com um tamanho amostral bastante relevante”, ressaltou a coordenadora Mêrge Tenório.

O superintendente do Ministério da Saúde, Luiz Carlos Reblin, também participou do seminário e destacou o Programa PPSUS por contribuir com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia: “o programa agrega a necessidade do País, envolvendo as estruturas estaduais no planejamento dessas pesquisas, e as de maior interesse serão aplicadas no sistema de saúde de cada estado. O resultado que vimos são de excelentes trabalhos desenvolvidos que, com certeza, vão influenciar naquilo que a gente tem de maior interesse: a qualidade de vida das pessoas”.

O coordenador-geral dos programas de pesquisa em saúde do CNPq, Gilberto Ferreira de Souza, veio prestigiar o evento e analisou os projetos apresentados. “As pesquisas são sempre de excelente qualidade e a expectativa que eu levo é que a gente possa construir um novo compromisso aqui no Espírito Santo com o lançamento de nova chamada do PPSUS e, com isso, dar continuidade a esse processo que é extremamente gratificante. Na próxima chamada haverá um aumento significativo de recursos. A última foi de R$ 2 milhões e a próxima será em torno de R$ 6 milhões! O aumento de recursos é baseado na excelência das pesquisas e na quantidade da demanda, que são fatores que são levados em consideração quando há definição de novos valores. Tenho certeza que as demandas dos pesquisadores serão sempre de boa qualidade”, pontuou Souza.

Conheça o resultado finais de algumas pesquisas apresentados no seminário:

- Esquistossomose tem exame inovador:

A esquistossomose, doença popularmente chamada de “Barriga D’água”, ainda tem forte incidência em algumas regiões do Espírito Santo. Mesmo com uma boa equipe na área de vigilância sanitária, a cidade de Afonso Cláudio registra grandes casos da doença. A região de Serra Pelada foi escolhida para o desenvolvimento de uma nova metodologia de exame para a detecção rápida e segura do parasita Schistosoma Mansoni, presente nos caramujos.

O professor Carlos Graeff Teixeira, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), desenvolve há anos pesquisas na área e, com o novo estudo realizado com recursos do PPSUS, se mostrou entusiasmado com os resultados gerados. “Eu destaco duas novidades. A primeira delas é a possibilidade de a gente corar os ovos desse verme. Quando examinamos no microscópio, que faz o diagnóstico de certeza, um método que deixe esse ovo luminoso. E o outro resultado, absolutamente inovador é o uso da chamada espectrometria de infravermelho. Essa técnica é muito utilizada, inclusive, nos telescópios modernos. A maior parte das imagens que vocês veem é obtida por análise de infravermelho. E nós aplicamos isso para analisar na urina, o que a gente chama de diagnóstico de padrão”, explicou o professor.  

“Não vamos encontrar nenhuma substância, não é o parasita, é só a alteração de toda a estrutura molecular da urina e que possa estar associada à infecção. Estamos na fase final de padronização. Espero que tudo avance bem e, se isso se confirmar, vai ser uma revolução para o diagnóstico da chamada ‘barriga d'água’ causada por esse verme que está associado à falta de saneamento”, frisou Carlos Teixeira.

- Câncer de boca preocupa:

O Espírito Santo tem 80% dos casos de câncer de boca em estado avançado da doença. O índice despertou a preocupação com o crescimento da doença e levou um grupo de pesquisadores a concentrar os trabalhos na ampliação da detecção precoce na rede pública de saúde. As ações foram concentradas no treinando dos profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) para o diagnóstico precoce e para dar suporte de diagnóstico laboratorial. O suporte é a partir de um aplicativo desenvolvido em conjunto com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e tem como objetivo monitorar os pacientes dos grupos de risco, que são homens acima de 55 anos e que fazem uso de bebidas alcoólicas e fumam.

A condução da pesquisa foi da professora Sandra Lúcia Ventorin Von Zeidler, da Ufes – Campus Vitória, que retratou a real situação do câncer de boca no Estado. “Estamos com 80% dos casos diagnosticados como doença avançada. E isso piora muito a chance de cura do paciente, diminui a sobrevida dele e aumenta também os problemas relacionados ao tratamento, porque a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia passam a trazer outros problemas para o paciente. O aplicativo tem como finalidade buscar esse grupo de pacientes para o monitoramento e o acompanhamento, a fim de que possamos detectar mais precocemente caso venha a ocorrer lesões”, disse Sandra Von Zeidler.

A pesquisadora ainda revelou que a maior incidência da doença e mortalidade está na Região Metropolitana da Grande Vitória. Ela esclarece ainda que, em todas as regiões do Espírito Santo, os profissionais estão preparados para fazer a identificação do câncer de boca, mas alerta que o treinamento precisa ser constante para motivar o profissional a reconhecer essas lesões, para que estejam atentos a esses casos e aos indivíduos com maior risco.

Sandra Lúcia Ventorin Von Zeidler lamentou a falta de laboratórios de diagnósticos: “nós temos hoje somente 26% dos nossos municípios com capacidade de realizar o diagnóstico, ou seja, ter o profissional capaz de fazer a biópsia e o laboratório para analisar. É preciso melhorar bastante nesse sentido”, salientou.

- Sequelas da Covid-19:

Um aplicativo móvel vai permitir que as pessoas com sintomas persistentes após a Covid-19 sejam identificadas precocemente e possam iniciar o tratamento mais cedo. A novidade vai evitar que essas sequelas, muitas vezes, sejam permanentes e também pode reduzir os danos futuros. A pesquisadora Flávia Marini Paro, Ufes – Campus Vitória, explicou de qual forma os profissionais de saúde poderão ter acesso a esse aplicativo desenvolvido.

“O objetivo é que o aplicativo seja disponibilizado para o uso dos agentes comunitários de saúde das unidades básicas, nas visitas domiciliares. Esses agentes poderão, então, fazer a entrevista com as pessoas, cadastrar no aplicativo, identificar aqueles que necessitam ser referenciados para tratamento especializado de fisioterapeuta, terapêutico e psicológico. Outros pacientes que não precisam ser referenciados poderão receber orientações para autocuidado”, explicou Flávia Paro.  

O projeto foi desenvolvido em Vitória, mas é possível fazer em todos os municípios do Brasil que tiverem interesse. O aplicativo já está legalmente registrado em nome da Ufes.

- Violência contra mulher é questão de saúde pública:

Um estudo sobre a violência contra a mulher feito nos bairros da capital capixaba trouxe luz sobre o problema que produz vítimas em todas as classes sociais. A pesquisa foi realizada com visitas domiciliares e ouviu 1.100 mulheres em domicílios selecionados pela equipe de pesquisadoras. A coordenação do projeto foi feita pela professora Franciele Marabotti Costa Leite, da Ufes – Campus Vitória, e o estudo confirma que a violência contra a mulher está enraizada em toda a sociedade, em decorrência do elevado número de mulheres em situação de violência praticado pelo parceiro íntimo, que é o principal agressor devido à cultura machista predominante na sociedade.

Diante dos resultados, a professora defende que a violência contra a mulher deva ter foco na saúde pública. “Posso afirmar que é um problema de saúde pública porque atinge um grande número de pessoas, um grande número de mulheres que estão em situação de violência. E estar em situação de violência, estar exposto a esse agravo, repercute de forma negativa na saúde dessa vítima, tanto na saúde mental quanto na sua saúde física. Têm inúmeras gravidezes que não são planejadas, riscos de infecção sexualmente transmissíveis, tem o risco do abortamento, entre outros agravos de saúde, que essa mulher fica exposta quando está em situação de violência”, frisou a pesquisadora Franciele Leite.

- Protótipo para mobilidade de pessoas amputadas ou com AVC:

A emoção da pessoa em conseguir andar novamente sem muletas ou recuperar parte do movimento perdido após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) foi o auge do projeto desenvolvido pelo professor de engenharia mecânica Raphael Milanezi de Andrade, da Ufes – Campus Vitória. Usando uma nova tecnologia, foi possível desenvolver protótipos para pessoas amputadas de membro inferior e pessoas que sofreram AVC, que têm algum tipo de limitação de movimento de membro superior. Raphael Milanezi esclarece quais os próximos passos para que os protótipos cheguem à população, por meio do SUS.

“A universidade vai até o nível do desenvolvimento da tecnologia. Agora, precisamos fazer uma validação clínica, avaliar a questão de requisitos de segurança, reduzir custos de desenvolvimento e também de uma empresa interessada em transformar isso num produto de fabricação ampla para fornecer ao SUS de forma adequada. Existe uma população muito grande para ser atendida. O AVC é a doença que mais mata e deixa deficientes, e o número de pessoas amputadas é crescente. Alguns dados são de milhares de amputações já realizadas pelo SUS e esses pacientes ficam depois sem um equipamento adequado. Acredito que as tecnologias podem melhorar a capacidade de andar, a mobilidade e muito mais das pessoas”, disse o professor Raphael Milanezi.

- Sistema para amputados:

Na mesma linha de pesquisa, a professora Mariana Rampinelli Fernandes desenvolveu um sistema auxiliar de diagnóstico de amputados de membro inferior atendidos pelo SUS. Um dos resultados mais importantes do projeto é a possibilidade da análise da marcha, que é o caminhar das pessoas com alguma redução de mobilidade. O sistema pode ser aplicado na reabilitação de pessoa amputada, total ou parcial, de membro inferior e possibilita mensurar o quanto ela está progredindo na adaptação com a prótese. 

Diante dos resultados das pesquisas, Mariana Rampinelli Fernandes explica que o sistema desenvolvido pode ser ampliado para outros pacientes. “Por exemplo, na análise de pessoas acometidas por AVC para fazer o ranqueamento nas escalas de análise do AVC agudo, ou mesmo na reabilitação. Nós estamos estudando também como o sistema pode auxiliar no diagnóstico precoce de idosos que tenham alguma dificuldade de mobilidade, e isso pode vir a ser um indicador de alguma doença degenerativa”, completou Mariana Rampinelli Fernandes.

- As ondas da Covid-19:

Espírito Santo teve 11 ondas de Covid-19 no período de três anos, sendo a Ômicron a última delas e tendo suas variantes ainda circulando entre a população e fazendo vítimas. A conclusão é da pesquisa de monitoramento genômico e avaliação de alguns parâmetros que poderiam estar associados com a transmissão e com o espalhamento da Covid-19 no Estado no pico epidêmico. Os parâmetros da pesquisa foram os dados epidemiológicos, o número de casos, os óbitos, a incidência, a prevalência, como também a análise genômica, os genes e o genoma do vírus que circulou no Espírito Santo nos últimos três anos.

O responsável pela pesquisa foi o professor Edson Oliveira Delatorre, da Ufes – Campus Alegre, que detalhou os dados apurados sobre as ondas da Covid-19 no Estado. “Tivemos uma variação no número de pessoas afetadas, tanto o número de casos e de pessoas doentes, quanto que vieram a óbito. Nos dois primeiros anos da pandemia, a gente teve um número alto de casos e uma alta taxa também de indivíduos que vieram a óbito, uma alta letalidade. Com o passar do tempo, a partir de 2022 para frente, houve uma redução no que a gente chama de letalidade, mas o número de casos ainda continuou muito alto. Analisamos que provavelmente isso foi devido à campanha de vacinação ou também à imunidade natural. A pessoa se infectou e depois deixa de ser susceptível ao vírus”, destacou o professor.

Ele continuou a explicação e disse que outra coisa que chamou a atenção foi a correlação entre a gravidade da epidemia e o número de óbitos com a densidade populacional. “Então, a densidade populacional parece ser um dos grandes fatores que vão fazer com que as cidades do interior sejam mais protegidas com relação aos óbitos. E a terceira grande conclusão é que a epidemia no Espírito Santo é uma epidemia bem espalhada. Não existia, então, redes de transmissão dentro do Estado. O indivíduo vem doente ou entra em contato com uma pessoa doente de outro estado e vem para o Espírito Santo. Essa pessoa não consegue transmitir isso para outros indivíduos”, comentou Delatorre.

O professor ainda explicou como está a Covid-19 atualmente no Espírito Santo. “Tem uma onda Ômicron que não muda muito e vai tendo pequenas mudanças. São as subvariantes dentro da Ômicron, que é a JN23 que consegue se espalhar bem no indivíduo que já ficou doente em algum momento e naquele indivíduo que já está vacinado. Por isso, é importante a atualização da vacina que o Ministério da Saúde está providenciando. O aviso é que ainda estamos tendo uma alta no número de casos”, alertou.

- Terapia farmacêutica:

Pensando em atender algumas necessidades farmacêuticas na rede de saúde do município de Alegre, sul do Espírito Santo, uma equipe de alunos da Ufes, coordenada pelo professor Genival Araújo dos Santos Júnior, desenvolveu um estudo de utilização de medicamentos e a possibilidade de implantação de um serviço de acompanhamento farmacoterapêutico.

A primeira etapa consistiu no levantamento epidemiológico sobre as necessidades em saúde do paciente. Na sequência, foi criada uma estrutura de serviço farmacêutico para contribuir com os pacientes e, por último, foi executado o serviço para avaliar se houve melhoras ou não. Após as três etapas realizadas, o professor Genival Júnior analisou os resultados como positivos.

“Tivemos a certeza que o serviço funciona para reduzir pressão, reduzir colesterol, diminuir risco cardiovascular e aumentar a qualidade de vida do paciente. Além disso, temos um perfil de doenças e um perfil de uso de medicamentos na populaçã. Temos também um serviço implantado e estruturado com profissionais, que, a partir de então, vai ser executado em parceria com a universidade”, observou Genival Júnior.

- Covid-19 e excesso de medicamentos:

As comorbidades e os medicamentos aplicados aos pacientes com Covid-19, hospitalizados no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), em Vitória, no auge da pandemia, foram os objetos de uma pesquisa do PPSUS. A equipe de pesquisadores, coordenada pela professora Daniela Amorim Guimarães do Bem, realizou uma verdadeira radiografia dos desfechos clínicos e terapêuticos feitos no atendimento do SUS aos pacientes.

A coleta dos dados foi de maneira retrospectiva, por meio da consulta ao prontuário eletrônico dos pacientes, disponível no Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários (AGHU). Foram incluídos pacientes acima de 18 anos, hospitalizados entre 1º de janeiro de 2020 e 31 de agosto de 2021, que tiveram alta hospitalar ou evoluíram para o óbito. Participaram do estudo 132 pacientes, sendo que 51,5% eram do sexo masculino e 48,5% do sexo feminino, com idade média 56 anos. De acordo com o local de residência, 126 (95,5%) pacientes eram moradores do Espírito Santo.

Com relação aos hábitos de vida dos pacientes, o tabagismo e o etilismo foram relatados por 19,2% e 16,5% dos pacientes, respectivamente. Sobre as comorbidades, a hipertensão arterial foi a mais frequente, sendo apresentada por 55,6% dos pacientes, seguida de diabetes mellitus (33,3%), obesidade (12,5%), doença cardiovascular (11%), doença renal crônica (5,9%) e doença pulmonar (3,4%). Os portadores de diabetes apresentaram maior comprometimento pulmonar na Covid-19, sendo que 97% tiveram a prescrição de cinco ou mais medicamentos simultaneamente, o que é considerado como polifarmácia. Foi identificado em 59,8% o uso acima de dez medicamentos, o que configura medicação excessiva.

O percentual de pacientes em uso de polifarmácia se elevou com o aumento da idade, sendo de 50% em pacientes com idade de 18 a 59 anos e de 70% acima de 60 anos. Um total de 96 medicamentos diferentes foram prescritos a partir da admissão hospitalar. Seis fármacos foram redirecionados para Covid-19. A enoxaparina foi o medicamento mais utilizado (81,82%), seguido da dexametasona (59,85%), azitromicina (37,12%), heparina (20,45%), ivermectina (2,27%) e hidroxicloroquina (0,76%).

A professora Daniela Amorim Guimarães do Bem esclareceu os dados apurados na pesquisa. “A maioria dos pacientes realmente já tinha outras comorbidades e, além disso, um agravante da idade. Ficou claro uma correlação entre idade, comorbidades e a maior incidência de óbitos, comprovando dados não só do Espírito Santo, mas do Brasil e também mundiais”, detalhou.

Ela continuou: “observamos que a alta utilização de muitos medicamentos foi uma situação grave e isso se explica exatamente pelo desconhecimento ainda do vírus e sem um protocolo padrão e, soma-se a isso, o medo do desconhecido, da gravidade da doença, dos casos, e o receio também do médico em não usar o medicamento. Com isso, o médico fica inseguro em não tratar e acaba prescrevendo vários medicamentos. Aí vira uma ciranda, um é para cobrir o efeito colateral do outro e quando se analisa o paciente teve na internação excesso de medicamentos”.

- Câncer:

A importância dos registros de câncer para a vigilância em saúde baseou a pesquisa que avaliou os principais tipos, reais ocorrências, incidência, mortalidade, sobrevida específica e global dos principais cânceres em toda a rede de atenção oncológica do Espírito Santo. Os dados foram correlacionados com alguns indicadores sociais de saúde, como a ficha de registro do tumor, objeto de estudo, via os registros hospitalares de câncer.

Uma das questões mais importantes identificadas é a sobrevida do paciente, conforme explica o coordenador da pesquisa, o professor Luís Carlos Lopes Júnior, da Ufes – Campus Vitória. “Na sobrevida global, o câncer de próstata está acima de 88%. No câncer de mama, por exemplo, nós tivemos uma sobrevida alta também, principalmente quando os tumores são detectados inicialmente, em contrapartida, daquele com metástases que têm uma sobrevida menor e cai consideravelmente. E no câncer de infantojuvenil, também vimos que a sobrevida em cinco anos global está em torno de 61%. Esse é um dado ainda muito baixo, se a gente pensar nos requisitos internacionais que a OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta, então a gente precisa investir mais em detecção precoce e no câncer de infantojuvenil”, disse Luís Júnior.

- Comprimidos para tratamento de câncer:

A dúvida paira no ar quando o comprimido é maior do que o padrão e deve ser tomado inteiro, amassado ou dissolvido? Foi para esclarecer a dúvida que o projeto de estudo se concentrou em um medicamento de combate ao câncer com a substancia capecitabina. O que se buscou com a pesquisa foi saber se mudando a forma de tomar a medicação haveria perda de eficácia do princípio ativo.

A indústria do quimioterápico recomenda que seja usado na forma inteira e a coordenadora da pesquisa, a doutora Renata Dalmaschio Daltoé, falou da conclusão dos estudos. “Esse comprimido foi triturado, adicionado um pouco de água e dado ao paciente para tomar. E, pelo menos até seis horas, não tem diminuição do princípio ativo. Ou seja, a substância que faz a ação antitumoral permanece em quantidade intacta, igual à antes da maceração. Mesmo dissolvido, o comprimido consegue diminuir a viabilidade dessas células, ou seja, tem efeito antitumoral. O paciente não precisa ficar preocupado com a forma que for servida a medicação, caso não consiga engolir”, orientou a pesquisadora Renata Daltoé, que ainda fez um alerta que o paciente deve seguir a recomendação médica para passar pelo processo que a farmácia hospitalar vai fazer e que existe a técnica correta.

Com a conclusão dos estudos a nova mudança de padrão deve chegar às unidades de saúde do SUS.

Os avaliadores dos resultados das pesquisas

A conclusão dos projetos apresentados no Seminário do PPSUS foi avaliada por três renomados doutores que analisaram os resultados apresentados pelos pesquisadores. O doutor Geraldo Mill, da Ufes de Vitória, foi um deles e teceu elogios as pesquisas concluídas. “Os projetos foram muito bem executados. Vários que foram apresentados têm uma aplicabilidade direta para o SUS, então, são informações que os gestores do SUS, tanto em nível estadual quanto municipal, poderão utilizar”, disse.

O doutor Fabrício Freire de Melo, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi avaliador dos projetos desde a fase de resultados parciais. Agora, com a conclusão das pesquisas, se mostrou entusiasmado com os avanços alcançados. “Estou muito impressionado com o nível dos estudos, com os resultados que foram gerados, que são muito impactantes para o SUS, para a sociedade no geral”, contou.

A doutora Filomena Eurídice Carvalho de Alencar, da Ufes de Vitória, foi avaliadora de boa parte dos projetos e fez questão de destacar a qualidade das pesquisas apresentadas. “São estudos que mostram que a população pode se beneficiar de alguma forma com tudo que foi realizado”, pontuou.

Texto: Jair Oliveira / Edição: Samantha Nepomuceno

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